Para muitos, o Ford Galaxie/Landau jamais terá sucessor em sua exuberância de espaço e requinte |
Pergunte a um grupo de conhecedores que carro nacional deveria receber o título de "topo-de-linha de todos os tempos", e o resultado tem grande chance de recair no Ford Galaxie/Landau. O sedã de origem americana, lançado em 1966 e produzido até 1983, marcou época como poucos automóveis brasileiros.
O primeiro Galaxie foi introduzido nos Estados Unidos em 1959 como o Ford de grande porte. Seis modelos compunham a linha, com destaque para o conversível Skyliner, cujo teto rígido em 60 segundos alojava-se no porta-malas. Como todo americano da época, ostentava muitos ornamentos cromados e aletas ("rabos de peixe") nos pára-lamas traseiros.
O primeiro Galaxie surgiu nos Estados Unidos em 1959. Suas linhas seguiam tendências da época, como o pára-brisa bastante envolvente e aletas nos pára-lamas traseiros |
As opções de motores passavam por um seis-cilindros de 3,65 litros, o V8 de 4,8 litros e o V8 de 5,7 litros, com até 300 cv. Tratava-se de potência bruta, como todas as citadas neste artigo. Como os motores americanos daquela época raramente passavam de 40 cv líquidos por litro de potência específica, não é exagero estimar 228-230 cv "atuais" para este último, cerca de 25% a menos.
O modelo 1960 crescia e ganhava faróis integrados à grade. O cupê Starliner e sua versão conversível Sunliner eram as opções de topo. No ano seguinte aparecia o V8 390 (6,4 litros) de 300, 330 e 375 cv, este na opção Thunderbird Super, com carburador quádruplo. Para 1962 o 390 dava lugar ao Thunderbird 406, de 6,6 litros e potência de 385 ou 405 cv. Os motores 427 (7,0 litros) chegavam um ano depois, com a cilindrada máxima permitida nas competições da NASCAR e 410 cv. Esse ano-modelo é considerado clássico na linha, enquanto o de 1964 notabilizou-se nas pistas.
O modelo 1960 crescia e ganhava faróis integrados à grade. O cupê Starliner e sua versão conversível Sunliner eram as opções de topo. No ano seguinte aparecia o V8 390 (6,4 litros) de 300, 330 e 375 cv, este na opção Thunderbird Super, com carburador quádruplo. Para 1962 o 390 dava lugar ao Thunderbird 406, de 6,6 litros e potência de 385 ou 405 cv. Os motores 427 (7,0 litros) chegavam um ano depois, com a cilindrada máxima permitida nas competições da NASCAR e 410 cv. Esse ano-modelo é considerado clássico na linha, enquanto o de 1964 notabilizou-se nas pistas.
Em 1965 ele assumia as formas que veríamos aqui. O conversível era uma das 17 versões |
Uma reformulação total para 1965 deu ao Galaxie as linhas com que o conhecemos no Brasil, com os característicos faróis sobrepostos. Havia 17 versões, incluindo cupê e conversível, e cinco motores, do seis-cilindros de 4,0 litros ao 427 Thunderbird High Performance, um V8 de 425 cv. No ano seguinte somava-se o V8 de 428 pol3 (leia abaixo). Essa linha foi mantida até o modelo 1967, vindo no ano seguinte uma nova geração, de estilo mais esportivo, mas que não mais ultrapassava os 360 cv. Em 1972 a Ford deixava de produzir a linha Galaxie.
O desempenho do 7 Litre, o Galaxie de 425 cv
O primeiro automóvel da Ford A Ford instalou-se no Brasil em 1°. de maio de 1919 para a montagem de automóveis Modelo T e caminhões TT, com peças importadas da matriz americana. Entretanto, quando o GEIA - Grupo Executivo da Indústria Automobilística iniciou a implantação da indústria automobilística nacional, definiu-se que tanto a Ford quanto a General Motors produziriam... caminhões apenas. O primeiro Ford fabricado no país, concluído em agosto de 1957, era um F-600 para seis toneladas, com motor V8 a gasolina e 40% de nacionalização. O picape F-100 começava a ser feito em outubro.
O tempo de maior potência para esse Ford nos EUA: os motores V8 de mais de seis litros chegavam a superar 400 cv |
Foram precisos 10 anos para que a Ford passasse a produzir aqui um carro de passageiros. E, apesar da escassa motorização dos brasileiros, o modelo escolhido não era econômico e acessível, mas luxuoso e caro: o Galaxie 500, baseado no que os EUA fabricavam desde 1965. Cercada de grande expectativa, a novidade fazia sua aparição no 5°. Salão do Automóvel, aberto em 26 de novembro de 1966 no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A primeira unidade era produzida em 16 de fevereiro de 1967, marcando um momento histórico para a Ford e, por extensão, para a indústria nacional.
Externamente era muito semelhante ao americano, com porte avantajado (5,3 metros de comprimento, 2 m de largura, 3,02 m entre eixos), enorme balanço traseiro e o predomínio de linhas retas. Os parrudos pára-choques, as calotas, frisos, grade e o retrovisor eram cromados, seguindo a tendência da época. De cada lado da ampla grade vinham dois faróis redondos sobrepostos; as lanternas traseiras eram retangulares.
Externamente era muito semelhante ao americano, com porte avantajado (5,3 metros de comprimento, 2 m de largura, 3,02 m entre eixos), enorme balanço traseiro e o predomínio de linhas retas. Os parrudos pára-choques, as calotas, frisos, grade e o retrovisor eram cromados, seguindo a tendência da época. De cada lado da ampla grade vinham dois faróis redondos sobrepostos; as lanternas traseiras eram retangulares.
Em fevereiro de 1967 chegava o Galaxie 500 brasileiro, primeiro carro nacional da Ford e um marco para nossa indústria, que acumularia primazias durante seus 15 anos |
Nas Pistas
O Galaxie era construído sobre um chassi de longarinas, de desenho perimetral e não tipo escada, solução hoje abandonada nos automóveis em favor do monobloco, e já trazia carroceria com deformação programada na frente e na traseira, um fator de segurança. As suspensões, tradicionais, empregavam molas helicoidais bastante macias, em benefício do conforto; os freios eram a tambor nas quatro rodas. Os primeiros modelos vinham com o robusto motor V8 do F-100, de 272 pol3 de cilindrada (4.458 cm3) e comando de válvulas no bloco, que desenvolvia 164 cv de potência e 33,4 m.kgf de torque.
As dimensões, o estilo e a abundância de cromados eram típicos dos carros americanos. O motor inicial, de 4,5 litros e 164 cv, era o mesmo dos picapes e caminhões da marca |
Não era o ideal para o elevado peso do Galaxie, 1.780 kg: as acelerações eram lentas, de 0 a 100 km/h em 15 s, e a velocidade máxima ficava em 150 km/h. Ainda assim, o primeiro automóvel da Ford logo assumia uma posição de prestígio no mercado, dada a escassa concorrência nacional. Seu rodar confortável, baixíssimo nível de ruído e as amplas acomodações representavam as apreciadas qualidades dos carros americanos.
Nos anos seguintes recebia novos equipamentos que acentuavam seu conforto. Na linha 1969 passava a ser oferecido na versão LTD (de limited, ou edição limitada, o que na verdade não era). O acabamento mais refinado incluía teto revestido em vinil, grade e frisos diferenciados, tapetes espessos, painel e portas com revestimentos em jacarandá da Bahia, retrovisor externo com ajuste interno (por um botão no painel), lampejador de farol alto, espelho de cortesia no pára-sol direito e apoio de braço central no banco traseiro.
Junto do LTD vinha um motor de 292 pol3 (4.785 cm3, obtidos com maior diâmetro dos cilindros), 190 cv e torque de 37 m.kgf, para melhora razoável no desempenho. Era vinculado à transmissão automática de três marchas Cruise-o-Matic, primazia na produção nacional. O ar-condicionado tinha evaporador, comandos e difusores de ar ainda sob o painel, enquanto a direção assistida era tão leve que o volante podia ser movido com um só dedo, chegando a assustar os desavisados.
A combinação do motor 292 ao câmbio manual tornava-se disponível apenas no modelo 1970 do Galaxie 500. Atingia 160 km/h reais de velocidade máxima -- o velocímetro, famoso por seu otimismo, tocava com facilidade os 180 -- e acelerava de 0 a 100 em 13 s. A mesma época marcava o lançamento do Galaxie básico, mais simples e acessível, para concorrer com o então novo Dodge Dart e com o Opala 3800. Despojado no acabamento interno e externo, perdia a direção assistida, a ventilação forçada, o rádio e muitos cromados.
Carro de presidente
O Landau foi por muito tempo o preferido de autoridades governamentais. Mesmo após o encerramento de sua produção, a Presidência da República manteve em uso um modelo 1982 a álcool.Em péssimo estado, foi substituído em 1990 por um Lincoln Town Car, cedido em regime de comodato pela Ford ao então recém-empossado presidente Fernando Collor.
Em Escala
Antes mesmo de chegar às ruas esse Galaxie era apelidado de "Teimosão" ou "Pé-de-Camelo", em alusão às versões populares Teimoso, do Willys Gordini, e Pé-de-Boi, do Volkswagen, fabricadas anos antes. Só mesmo àquele tempo, anterior à primeira crise do petróleo, um carro tão gastador-- fazia de 3,5 a 5,5 km/l conforme as condições de uso -- podia ser vendido como versão econômica.
O sofisticado Landau
Um ano depois a Ford apontava para o caminho oposto, o do requinte, com o LTD Landau. A palavra, de origem francesa, identificava antigas carruagens cujo teto podia ser recolhido metade para a frente e metade para trás, utilizando uma dobradiça central em forma de "S". No caso deste Ford não havia capota conversível, mas um adorno nas colunas traseiras simulava a tal dobradiça.
Além desses e de outros adornos, o Landau trazia um vidro traseiro reduzido, para tornar o interior mais privado e aconchegante; calotas raiadas, também inspiradas em carruagens; revestimento da capota em vinil corrugado, por fora, e material aveludado, por dentro; e revestimento dos bancos em couro, opcional, ou em cetim. Havia luzes de leitura na traseira, controladas pelo motorista, e dois alto-falantes em vez de um só. O câmbio podia ser manual ou automático.
O Landau vinha com vidro traseiro menor, diversos adornos e um friso em "S" nas colunas, que imitava a dobradiça da capota das antigas carruagens que lhe cederam o nome |
Os freios tinham servoassistência e nas demais versões eram aprimorados, mas mantendo os tambores: só em 1972 surgia a opção pelos dianteiros a disco, mais eficientes e resistentes ao uso contínuo. No ano seguinte, alterações de estilo na grade, lanternas e pára-lamas traseiros davam-lhe um ar mais atual. A versão básica era descontinuada. A alta da gasolina que se seguiu gerou dificuldade nas vendas de carros grandes e e que consumiam muito, fazendo com que só em 1976 a Ford voltasse a efetuar modificações -- as mais extensas desde seu lançamento.
Os quatro faróis vinham em linha horizontal, com as luzes de direção nas extremidades onde antes eles ficavam, e podiam usar lâmpadas halógenas. A grade era menor, com barras verticais, embora o Galaxie 500 continuasse com frisos horizontais, e o pára-choque dianteiro trazia a placa no lado esquerdo. Na traseira as lanternas vinham em conjuntos de três retângulos, com as luzes de ré ainda no pára-choque, e todas as seis eram acesas, conferindo ar imponente à noite. As calotas de desenho liso traziam no centro o mesmo símbolo da "mira" fincada no capô: o emblema da Lincoln americana, só que posicionado na horizontal
A versão de topo era chamada apenas Landau. O motor, importado do Canadá e o mesmo do Maverick, de geração mais nova, representava novo aumento de cilindrada, para 302 pol3 (4.949 cm3), passando a 199 cv e 39,8 m.kgf e melhorando sobretudo o desempenho em baixa rotação. Com câmbio manual chegava a 160 km/h e acelerava de 0 a 100 em 13 s; com transmissão automática, 150 km/h e 15 s. Pneus radiais 215/70-15 e rodas mais largas, opcionais, traziam maior segurança, assim como o duplo circuito de freios.
Pouco foi modificado nos anos seguintes. Em 1978 ganhava um volante de quatro raios, mais agradável ao toque, e o Landau vinha em cor única prata Continental metálico, com teto de vinil no mesmo tom. No ano seguinte a ignição eletrônica substituía os velhos condensador e platinado, aprimorando o funcionamento do motor e reduzindo um pouco o consumo. O ar-condicionado passava a ser integrado ao painel e o Galaxie 500 era eliminado, restando as versões LTD e Landau, este apenas com câmbio automático.
Para 1980 o motor 302 era oferecido a álcool, opção comemorada por muitos, por representar economia palpável ao abastecer o enorme tanque de 107 litros, em que pese o consumo bem maior com o combustível vegetal. O chamado azul Clássico, muito elegante, era agora a principal cor do Landau. A fechadura do porta-malas ganhava comando elétrico, a suspensão traseira recebia um estabilizador e os cintos dianteiros passavam ao tipo retrátil de dois pontos, embutido nas colunas centrais. Nos pára-lamas traseiros surgiam pequenas lanternas laterais.
O motor 302, de 4,95 litros, melhorava o desempenho do Landau, que em 1980 passava a vir na cor azul Clássico e em versão a álcool |
No ano seguinte eram adotados os de três, junto de suspensão recalibrada e novas pinças de freio; em 1982 as luzes de ré eram incorporadas às lanternas e encerrava-se a produção do LTD. Em 2 de abril de 1983 chegava ao fim também o Landau, depois de 77.850 unidades produzidas entre todas as versões. O consumidor comum não mais podia comprar o carro oficial de autoridades governamentais e preferido pelos altos executivos.
No entanto, até o final da década a Ford continuava a receber tentativas de encomendas, por fiéis e conservadores clientes que não encontravam sucessor nos "carrinhos" -- como o luxuoso Del Rey da própria marca -- dos anos 80.
Fonte: Carros do Passado